Talibã anunciou nesta quinta-feira (02/08/2021) que está perto de formar um novo governo no Afeganistão, onde dezenas de mulheres organizaram uma manifestação incomum a favor de seu direito de trabalhar sob o novo regime, que enfrenta enormes desafios econômicos.
Os fundamentalistas islâmicos, que prometeram uma gestão mais flexível do que a brutalmente radical imposta durante seu governo anterior (1996-2001), deixarão de ser um grupo insurgente e passarão a exercer diretamente o poder.
O anúncio da formação de um gabinete – que duas fontes talibãs disseram à AFP que poderia ocorrer na sexta-feira (03) – ocorrerá poucos dias após a caótica partida do país das forças dos Estados Unidos, encerrando a guerra mais longa travada por Washington no exterior.
Um dos momentos mais simbólicos desde que o Talibã tomou o poder em Cabul, em 15 de agosto, foram os desfiles de seus militantes com o material militar ocidental apreendido durante sua ofensiva relâmpago. Eles até fizeram voar um helicóptero Black Hawk sobre Kandahar, a fortaleza espiritual do grupo extremista.
Agora todos os olhos estão voltados para o novo gabinete do Talibã, e se ele será capaz de recuperar uma economia devastada e honrar seu compromisso de um governo “inclusivo”.
“Não temos medo”
O que parece claro, de acordo com uma autoridade do Talibã, é que “pode não haver” mulheres encarregadas de ministérios ou em cargos de responsabilidade.
Durante seu período no poder entre 1996 e 2001, marcado pela aplicação estrita da lei islâmica (sharia), as mulheres foram banidas do espaço público afegão.
Nesta quinta-feira, na cidade de Herat, capital cosmopolita do oeste do Afeganistão, 50 mulheres protestaram para reivindicar o direito ao trabalho e solicitar participação no novo Executivo.
“É nosso dever ter educação, trabalho e segurança”, gritaram as manifestantes em uníssono. “Não temos medo, estamos unidas”, acrescentaram.
“Há negociações para formar um governo, mas (o Talibã) não está falando sobre a participação das mulheres”, comentou à AFP uma das organizadoras do protesto, Basira Taheri.
“Queremos que o Talibã aceite falar conosco”, acrescentou.
Esse tipo de manifestação ou expressão pública de descontentamento é algo inédito para o Talibã, que reprimiu implacavelmente qualquer oposição durante seu regime.
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