Completando um ano nesta sexta-feira (24/02/2023), a guerra na Ucrânia parece cada vez mais distante de um desfecho diplomático. Os bombardeios continuaram no inverno e se intensificaram na primavera, com combates intensos no Leste e no Sul, onde, nos últimos meses, a Rússia sofreu reveses diante de um exército ucraniano cada vez mais abastecido por armas ocidentais, mas ainda incapaz de realizar uma contraofensiva que liquide a guerra ou force o Kremlin a negociar.
As perspectivas de paz e negociação, na verdade, parecem cada vez mais remotas à medida que o combate se prolonga. Para a Rússia, resta somente a vitória e o reconhecimento das áreas ocupadas, inclusive a Crimeia, como seu território, para justificar a invasão que lhe custou economicamente e, sobretudo, politicamente diante do número de sanções e soldados perdidos. Para a Ucrânia, qualquer resolução que não inclua a devolução total do seu território, não interessa.
Diante da falta de diálogo e a escalada militar, o conflito que muitos especialistas acreditavam que terminaria em semanas tornou-se uma guerra de atrito cada vez mais perigosa. É a avaliação do ex-embaixador do Brasil em Londres e em Washington, Rubens Barbosa, que afirma que as condições impostas pelas partes envolvidas para uma resolução são impossíveis de atender e que estamos diante de um conflito que deve desembocar num armistício.
“Eu sempre achei que a evolução da guerra vai ser como a guerra da Coreia. Em algum momento vão parar as operações bélicas, mas jamais haverá um tratado de paz. Até hoje, a guerra entre a Coreia do Norte e a Coreia do Sul não tem um tratado de paz, está num armistício, como se diz, sem terminar. Acho que a guerra da Ucrânia vai por esse mesmo caminho”, afirma.
Assim como ele, o professor de Ciência Política e Relações Internacionais da Universidade de São Paulo (USP), Rafael Villa, também não vê o fim da guerra a curto prazo. Segundo o especialista, ainda que a Rússia não tenha conseguido ocupar a Ucrânia em semanas como se pensava, o país é detentor de um arsenal armamentista bastante sólido, ao mesmo tempo, a consolidação da contraofensiva ucraniana, com a ajuda do Ocidente, deterioram qualquer iniciativa de resolução diplomática.
“A Rússia continua a ter um arsenal armamentista bastante sólido, ou seja, a possibilidade de enfraquecer a Rússia e que as forças do país retrocedam não são tão plausíveis. Por outro lado, a Ucrânia conseguiu consolidar uma contraofensiva baseada em sua própria força, mas, sobretudo, no apoio ocidental, com isso a possibilidade e as perspectivas é que tenhamos uma guerra estagnada”, disse.
O especialista conclui também que, apesar de a Ucrânia querer um fim rápido, não há, por parte dos atores externos envolvidos no conflito, pressa para chegar em um acordo diplomático. Isso porque, mesmo que a Europa esteja enfrentando inflação alta, crise energética e o preço dos combustíveis tenha disparado no mundo, as consequências da guerra no campo econômico não foram tão prejudiciais a ponto de desestimular o Ocidente de financiar a contraofensiva ucraniana.
Na verdade, o que existe agora é uma guerra por procuração, segundo Barbosa. De acordo com o diplomata, os Estados Unidos e os países membros da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) estão travando uma batalha com a Rússia por meio da Ucrânia. E tal conflito só deve acabar com a derrota militar de Putin ou quando houver dissensões na Europa a ponto do bloco repensar a ajuda financeira e militar.
“Não há interesse em terminar a guerra, porque o objetivo do Ocidente é destruir a Rússia, derrotar Rússia, não é salvar a Ucrânia. Na minha visão, enquanto a Rússia não for derrotada, essa guerra vai continuar.”, avalia.
Enquanto isso, nas trincheiras russas e ucranianas, as perdas prolongadas, contínuas e exageradas continuam.
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