Em 2021, o Exército Brasileiro não distribuiu cloroquina 150 mg. A justificativa apresentada pelas Forças Armadas é de que não houve demanda por parte das secretarias estaduais de Saúde. Conforme apurado pela CNN Brasil, constam 290 mil comprimidos do medicamento armazenados no Laboratório Químico e Farmacêutico do Exército (LQFEX), no Rio de Janeiro. Já no ano passado, entre os meses de setembro e final de dezembro de 2020, o governo federal distribuiu 482 mil doses do medicamento para tratar pacientes em estado grave de Covid-19.
O remédio, que por muito tempo foi a aposta do presidente Jair Bolsonaro, que mesmo sem ser médico recomendava o uso, tem ineficácia cientificamente comprovada contra o novo coronavírus. Conforme a reportagem, o Ministério da Saúde afirmou, em fevereiro deste ano, que o governo federal não ampliou a produção de cloroquina, tampouco a de hidroxicloroquina.
Em divulgação nas redes sociais da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República (Secom), em março do ano passado, era explicado que o medicamento estava aprovado para casos graves da doença e que o Ministério da Defesa anunciava o aumento da produção do medicamento nos três laboratórios das Forças Armadas. No mesmo período, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) defendia o uso em reunião do G-20.
A CNN apurou, através da Lei de Acesso à Informação (LAI), que entre os meses de abril e agosto do ano passado o Ministério da Saúde solicitou aos militares 1,5 milhão de comprimidos de cloroquina para serem distribuídos às secretarias estaduais de Saúde. A justificativa para o envio dos medicamentos era de “combater a pandemia Covid-19” com base no número de casos suspeitos em cada estado.
A matéria lembra que, em setembro de 2020, veio a tona a informação de que o Exército pagou preços superfaturados em insumos para a fabricação da cloroquina. Um contrato a que a reportagem teve acesso mostra que o LQFEX gastou R$ 782,4 mil com a matéria-prima necessária para a produção da cloroquina, pagando 167% acima do valor de mercado – uma compra que foi sinalizada como suspeita pelo Escritório de Contabilidade Geral Federal.
Na época, o Exército não contestou formalmente esse aumento do valor da compra e só cobrou explicações por escrito à empresa depois da negociação, já finalizada, ter virado alvo de uma investigação no Tribunal de Contas da União (TCU). A justificativa dada foi de que os preços subiram por causa das oscilações da taxa de câmbio e do aumento da demanda internacional.